Imaginação e resolução de problemas
- Nei Paulino
- 19 de fev. de 2017
- 5 min de leitura

“As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se durante os seis meses da digestão. Refleti muito sobre as aventuras da selva e fiz, com lápis de cor, meu primeiro desenho.” (O Pequeno Príncipe)
Desde tempos antigos, o homem teve que se preocupar com as questões fundamentais para garantir sua sobrevivência. Água, alimento e abrigo são questões importantes à vida, e aos poucos, os homens foram percebendo que quando se organizavam em grupo, tornavam mais fácil o acesso a estes recursos fundamentais.
Com a convivência em grupo, surge uma nova vida que permitiu que as pessoas tivessem tempo livre para se dedicarem a outras atividades. Nesta hora, começaram surgir os conflitos de interesse entre membros do grupo. As questões de sobrevivência haviam sido “resolvidas”, contudo, surgiram novos problemas de convivência e relacionamento.
Algumas pessoas começaram usar seu tempo livre para praticar o conhecido “ócio criativo”. Foram percebendo aos poucos que a dificuldade de relacionamento tinha relação direta com a organização da vida interna das pessoas. Começaram a investigar e procurar os recursos mais apropriados para dar respostas a estes obstáculos, que em grande parte, diziam respeito aos processos naturais de desenvolvimento e crescimento mental (Pensamentos e Emoções).
Estes homens e mulheres tornavam suas ideias cada vez mais requintadas e estruturavam conhecimentos específicos com valor prático, revestindo-os de beleza, perfeição e atemporalidade. Para isso, usaram a linguagem simbólica, matéria prima presente em todas as manifestações de arte.
A linguagem simbólica usada nas artes é valiosa porque facilita o desenvolvimento mental, permitindo a integração e harmonização entre pensamentos e emoções, entre consciente e inconsciente, entre vida interna e vida externa.
Na Grécia Antiga os filósofos e artistas eram considerados homens sagrados. Eles eram vistos como pontífices que canalizavam mensagens divinas e as eternizava em suas obras. Eternizar significa encontrar um conhecimento que seja tão relevante à vida, ao ponto de transcender espaço e tempo. Portanto estamos falando de questões fundamentais à vida humana, que extrapolam estes limites.
Questões como: A vida, a morte, o sagrado, o profano, a alegria, a tristeza, a beleza, coragem, motivação, angústia, egoísmo, fraternidade, o amor, a decepção, ganância, os desejos animais, etc., sempre fizeram parte da existência humana e precisam ser vivenciados e elaborados de forma adequada para garantir que o desenvolvimento interno aconteça naturalmente.
As histórias (Mitos e Contos) são recursos preciosos para quem está em busca de desenvolvimento e crescimento pessoal/profissional porque permitem AMPLIAR O SENTIDO DOS SÍMBOLOS e OFERECER ENREDOS PERFEITOS que permitem a teatralização dos dramas psíquicos, que são a origem de toda desordem e sofrimento humano.
Os “filósofos artistas” ou “artistas filósofos” eram pessoas muito peculiares. Eram verdadeiros amantes da sabedoria e sabemos perfeitamente que a motivação impulsiona e atrai as pessoas diretamente para aquilo que elas amam. O filósofo é aquele que ama a sabedoria e por esta razão, conseguiram elevar o conhecimento sobre as verdades fundamentais da vida ao seu mais alto nível. Assim, puderam contribuir para a compreensão sobre as questões que realmente são importantes na vida das pessoas.
O relacionamento com pais, irmãos e filhos, as nossas preferências, nossas amizades, relacionamentos amorosos, trabalho, como gastamos o dinheiro, nossa saúde e aparência, revelam a organização da mente de cada pessoa. O mundo externo é uma projeção do nosso mundo interno e a linguagem da arte usada conscientemente é a mais indicada para ajudar na elaboração dos dramas psíquicos que se projetam e nos incomodam no dia-a-dia.
No livro “O Pequeno Príncipe”, o que parece ser uma história para crianças contém na verdade um pensamento profundo e complexo que apresenta a harmonia perfeita entre pensamento filosófico e científico. Este é mais um caso de “artista filósofo”. Como não poderia deixar de ser, o livro trata das questões mais relevantes à vida humana e esta afirmação deveria nos impressionar com a mesma intensidade que o garoto de 6 anos se impressionou quando soube que “uma jibóia poderia engolir, sem mastigar, uma presa inteira”.
O personagem do livro, nesta fase inicial é um garoto de 6 anos de idade, e como toda criança, ele é muito curioso. Albert Einstein dizia que a curiosidade é mais importante do que o conhecimento. Existe uma relação de causa/efeito entre os dois. Um efeito só pode existir quando uma causa é gerada. Se uma pessoa quiser que uma semente transforme-se em um fruto sem considerar que primeiro ela precisa passar por um processo sincrônico e diacrônico, terá seu desejo frustrado inevitavelmente. Primeiro a semente tem que ser plantada em bom solo, alimentada com a quantidade certa de água e sol para germinar, crescer, florescer e por fim, dar frutos.
Sincronia significa “que acontece ao mesmo tempo”. Dizer que a luz do sol é importante para a vida da semente é verdade, mas apenas o sol não consegue fazer a semente tornar-se uma árvore que dá frutos. Diacronia se refere às ocorrências “ao longo do tempo”.
Ignorar o processo intermediário que torna possível a transformação de uma semente em fruto é uma atitude totalmente prejudicial. Os resultados positivos na vida também só podem ser compreendidos quando analisados como processos sincrônicos e diacrônicos, que envolvem variáveis que interagem juntas por um tempo determinado.
O autor usa um personagem de 6 anos de idade para mostrar que a imaginação é uma capacidade natural e muito importante para os humanos, inclusive para os adultos. Quando estimulada corretamente, possibilita internalizar recursos simbólicos que permitem vivenciar nossos dramas psíquicos. Além disso, toda criação humana nos campos da filosofia, arte e ciência são produtos de mentes criativas que foram estimuladas com a riqueza simbólica contida nas artes.
“O Essencial é invisível aos olhos.” (O Pequeno Príncipe)
O padrão que fundamenta um processo mental deve ser percebido, identificado e trazido à consciência para ser usado. A utilidade do conhecimento pode ser reconhecida através de sua aplicação prática e de seus resultados. Aquilo que não gera desenvolvimento e crescimento é inútil e, portanto, deve ser descartado. Uma postura filosófica é aquela que se interessa pela natureza prática do conhecimento. Amor à sabedoria é uma busca prazerosa que tem por finalidade encontrar a forma mais adequada para viver a vida, de maneira interessante, harmoniosa e que possibilite o crescimento e maturidade emocional para si e para os outros.
A solução para os problemas enfrentados no cotidiano dependem da criatividade da pessoa. Quando ouvimos a afirmação “é preciso pensar fora da caixa”, estamos dizendo que a pessoa deve romper com seus limites internos para permitir que a imaginação flua livremente, para então identificar por si mesmo os padrões que prejudicam e os que beneficiam sua vida.
A curiosidade, imaginação e criatividade podem ser despertadas nos seres humanos através da exposição a algum tipo de linguagem simbólica. Ao ler a história, o garoto foi exposto aos símbolos que geraram um efeito. Estes símbolos criaram um movimento na psique do garoto (Pensamentos e Emoções) porque "passaram a existir" dentro dele. Sem a construção de um mundo simbólico rico, fica muito difícil que alguém se torne criativo e seja capaz de resolver seus próprios conflitos.
Portanto, quando o símbolo é internalizado, ele passa a compor o mundo simbólico da pessoa e enriquece sua vida imaginativa, ampliando os limites da sua mente. Uma vez que esta imagem se inscreve na mente, ela dará início a um movimento interno, que impulsiona e motiva à uma ação, que pode ser um desenho (caso do garoto), outras manifestações artísticas, filosóficas ou científicas, ou então como resposta criativa para um problema real que a pessoa enfrenta em sua vida.
O empenho no trabalho de construção de uma vida simbólica rica transformará a vida da pessoa. Esta atividade oferecerá recursos valiosos, além de permitir o acesso gradual a níveis cada vez mais elevados de percepção. Contudo, deve-se dar um passo por vez, fundamentando corretamente as etapas que antecedem as seguintes. A divulgação deste trabalho depende e segue estes critérios para facilitar a compreensão de questões mais complexas, que exigem recursos simbólicos de integração e harmonia, que são padrões mentais indispensáveis para uma vida interessante e feliz. Continua...
Nei Paulino
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