"A arte existe porque a vida não basta" (F. Gullar)
- Nei Paulino
- 13 de fev. de 2017
- 4 min de leitura

Na Grécia Antiga a arte era vista como uma representação que integrava a verdade, a beleza e a bondade. A arte revelava uma forma diferente de olhar o mundo, que rompia com os limites do óbvio, do rotineiro e do comum, revelando a beleza e a perfeição que envolviam os mínimos detalhes da vida.
A arte é a ferramenta ideal para provocar mudanças profundas na vida das pessoas. A felicidade é resultado da construção do sentido que cada pessoa cria para si, e a arte é a ferramenta que torna possível organizar, ampliar o significado das coisas e dar novos sentidos à vida.
O pensamento abstrato é indispensável para contemplar e perceber a beleza de uma obra de arte. Assim como o corpo físico precisa de alimento, água e descanso para se desenvolver e crescer, a mente humana também precisa de recursos básicos para se desenvolver: Símbolos, conceitos e descanso (tempo para assimilar o novo conhecimento). O pensamento abstrato é o estágio desenvolvido e amadurecido da mente humana.
Uma mente madura consegue associar imagens mentais à ideias abstratas que ampliam conceitos e revelam a beleza e perfeição que se reflete por toda vida. A beleza é fundamental na formação dos homens e uma visão deturpada desta virtude prejudica o indivíduo e a sociedade.
Os artistas conseguem condensar grandes quantidades de informação em uma superfície muito pequena. Esta é uma característica comum entre os grandes pensadores da história. Para isso, fazem uso do recurso mais valioso que existe para transmissão do conhecimento: Os símbolos.(ou Ideias Primordiais, ou imagens mentais, ou Arquétipos. Todas estas palavras diferentes se referem ao mesmo conceito)
A arte revela a importância da harmonia e integração, indispensáveis para uma mente e vida saudáveis. O mito de Osíris é uma analogia que se refere à fragmentação e integração do homem. "Osíris e Ísis reinavam no Egito. Seth se deixou consumir pela inveja e planejava matar seu irmão Osíris para tomar seu trono. Seth cortou e espalhou os pedaços do corpo de Osíris ao redor da terra. Ao saber sobre o que havia acontecido ao seu marido, Ísis saiu pelo mundo recolhendo seus pedaços e reconstituiu o corpo de Osíris. Depois disso teve um filho com ele".
O conceito de Individuação de Jung se refere à integração das partes que compõe a Psique Universal. Uma nova identidade surge quando permitimos ser quem realmente somos. Somente assim podemos transcender o ego e perceber nosso valor e influencia sobre o todo social.
A natureza nos inspira justamente por sua integração e perfeição. Imagine um pôr do sol em uma praia. Todos os elementos estão em perfeita integração. O sol, o mar, a areia da praia, o céu azul. o vento nas folhas dos coqueiros, etc. Tudo está no seu devido lugar e cada qual com sua diferença, criam uma cena harmônica.
A mente humana está apta para fazer associação harmônica, ou seja, é possível unir, integrar, mesmo havendo diferenças. Não é preciso (nem se recomenda) aniquilar a diferença. Basta desenvolver o pensamento abstrato para enxergar além da superficialidade dos objetos e pessoas e então, encontrar a essência que pode uni-los.
Todas as pessoas tem a capacidade inata para integrar ideias opostas, geradoras de conflitos humanos. A única forma de cessar o conflito é estar consciente de sua existência e transcendê-lo. Transcender é captar a essência que as une ao ponto de deixar de lado a diferença que as separa. A diferença continua existindo (e deve continuar existindo) mais foi integrada pela essência que perpassa todas elas.
Quanto maior a integração entre as partes que compõe uma ideia, mais beleza ela revelará. A beleza se dá quando a vida se expressa de maneira ideal e perfeita. A feiura é a vida impedida de se expressar livremente. É a vida bloqueada pela preocupação exagerada sobre o que os outros vão pensar se a pessoa fizer aquilo que a faz sentir bem.
Encontrar o nosso lugar no mundo é fundamental para a autoexpressão, ou seja, para ser quem realmente somos. Mas afinal, quem somos nós?
Esta pergunta já foi feita várias vezes ao longo de milhares de anos. O homem deve conhecer as partes fundamentais que o compõe. ("Conhece-te a ti mesmo") Um homem fragmentado não pode ver a beleza na vida. A harmonia e integração acontecem do lado de dentro, em nossa mente, e se refletem para a vida.
O modelo tríplice do homem é um assunto recorrente desde os tempos remotos. Ele está presente na filosofia Oriental e Ocidental, nas religiões e ciências. No Oriente, representado pelos principais deuses do Hinduísmo: Brahma, Vishnu e Shiva. No Egito: Osíris, Ísis e Hórus. No Ocidente Nous, Psiquê e Soma. No Cristianismo: Espírito, Alma e Corpo. Na Psicanálise Id, Ego e Superego (Freud), e ainda Real, Simbólico, Imaginário (Lacan). Na Psicologia Analítica de Jung, Consciente, Inconsciente Pessoal e o Inconsciente Coletivo.
Guardadas as devidas diferenças, esta “coincidência” aponta para a existência de uma estrutura tríplice que precisa ser percebida e integrada. A representação mental de integração entre estas partes fundamentais colocam o homem em equilíbrio consigo mesmo e em um nível de percepção que identifica naturalmente o belo e o harmônico projetados na vida.
Nei Paulino
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